Sempre digo que medicina é fácil. Chega a ser até simples demais perto da complexidade do mundo da psicologia. No exame físico, consigo avaliar quase todos os órgãos internos de um paciente. Com alguns exames laboratoriais e de imagem, posso deduzir com muita precisão o funcionamento dos sistemas vitais. Mas, observando um ser humano, seja ele quem for, não consigo saber onde fica sua paz. Ou quanta culpa corre em suas veias, junto com seu colesterol. Ou quanto medo há em seus pensamentos, ou mesmo se estão intoxicados de solidão e abandono.
As pessoas morrem como viveram. Se nunca viveram com sentido, dificilmente terão a chance de viver a morte com sentido.
A você que me lê e que não é da área da saúde, peço que perdoe essas pobres criaturas chamadas médicos, porque não aprendemos a conversar sobre a morte na faculdade. Aliás, não aprendemos nem a conversar sobre a vida! Nossa formação é sobre doença. Somos muito bons nisso de falar esquisito, e só sobre doenças. Somos de um vocabulário e raciocínios extremamente limitados. Tenha compaixão e paciência, pois atrás de um jaleco e de alguns números do CRM há um coração que sofre muito também.
Saber perder é a arte de quem conseguiu viver plenamente o que ganhou um dia.
Resenha do livro: A morte é um dia que vale a pena viver - Ana Claudia Quintana Arantes
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